Histórias que inspiram: a Medicina, a união de uma família e o ‘Churrasquinho do Romeu’
Publicado em: 06/02/2025
Em dezembro, Laísa Alves Romeu se formou em Medicina no Centro Universitário UNIFAA. O diploma tem o nome da jovem médica, mas a conquista é de toda a família. Filha de mãe professora do ensino fundamental, de pai que trabalha em gráfica e não terminou a escola, e neta de avós que não tiveram estudo, encontrou neles a força para enfrentar os desafios da vida. Assim que Laísa manifestou o desejo de cursar Medicina, a mãe Patrícia Romeu antecipou-se e começou a fazer salgadinhos para fora a fim de guardar o dinheiro em uma poupança específica para aquele fim. O pai Jorge Romeu seguiu o exemplo e resolveu empreender, mas em uma barraca de churrasquinho, onde, sempre que necessário, Laísa dava sua contribuição. Tudo pensando em custear os estudos da filha. A avó Sueli Soares, a irmã Dayane Romeu e o sobrinho Brenno Romeu também são personagens importantes nessa história.
“Não preciso nem dizer que, no dia da colação, foi extraordinária a sensação de dever cumprido, tanto da minha parte quanto da parte dos meus pais. Chorei muito e só consegui agradecer por tudo que eles fizeram. Aí meu pai me falou: ‘Minha filha, com toda dificuldade, com todo o esforço, se precisasse eu faria tudo de novo por você’. Realmente é uma conquista minha, mas muito deles também”, relembra, emocionada, a recém-aprovada para a residência em Pediatria.
O professor Márcio Martins da Costa, reitor do UNIFAA, ressalta a essência da instituição nesta trajetória inspiradora: “A história da Laísa e de sua família representa exatamente o DNA do UNIFAA: uma instituição que acredita no poder transformador da educação e que caminha lado a lado com seus alunos para tornar seus sonhos realidade. O compromisso do UNIFAA vai além da formação acadêmica; ele está na construção de trajetórias, na valorização do esforço e na certeza de que cada estudante que cruza nossas portas tem a possibilidade de mudar sua vida e a vida daqueles ao seu redor. Laísa é um exemplo vivo dessa transformação e de como a educação é capaz de unir, fortalecer e impulsionar famílias inteiras rumo a um futuro melhor.”
Estrada sinuosa
O caminho que Laísa percorreu foi sinuoso e repleto de barreiras, que foram superadas uma a uma. A primeira foi a escolha do curso superior. Em meio a tantas opções, acabou se equivocando. Mesmo sendo alertada por professores sobre sua real vocação, decidiu cursar Engenharia. E foi justamente quando saiu a aprovação em uma renomada instituição federal que a “ficha caiu”: “Foi uma situação muito ruim para mim, pois estava me preparando há três anos. Nesse momento que comecei a olhar para a Medicina com outros olhos e encarar essa faculdade como um sonho.”
Essa constatação “foi um choque para mim e para minha família”. Seria necessário voltar ao cursinho, agora para estudar as matérias mais cobradas nos processos seletivos da área de Saúde. “Então conversei com meus pais sobre a Medicina. E eles foram incríveis.” Durante dois anos, ela tentou vaga em instituições públicas. Apesar de o desempenho evoluir, o desgaste emocional levou a família a acreditar que seria melhor optar por uma faculdade particular. “Até que eu passei para Medicina, mas em uma faculdade particular em São Paulo”, conta Laísa.
Ela cursou dois períodos no interior de São Paulo. Mas, além dos gastos com as mensalidades, havia outros com moradia. “Ao final do ano, eles me falaram que estava inviável: ‘Se você não conseguir a transferência para Valença, infelizmente você vai ter que trancar o curso por um tempo para que a gente consiga se restabelecer.’” Corria o ano de 2019. A mãe, Patrícia, trabalhava como funcionária pública de Rio das Flores, cidade que mantém convênio para bolsa de estudo no Centro Universitário UNIFAA. Eram apenas três bolsas simultâneas, mas havia a informação que um dos beneficiários estava concluindo o curso. Residia naquela bolsa a esperança de permanência nos estudos e foi necessário lutar por ela.
“Minha família inteira estava em oração. Eu consegui e foi perfeito. Além de ficar na minha cidade, o que seria uma diminuição de gastos, saiu a resposta e comecei a receber a bolsa de 40%. Deus realmente fez as coisas acontecerem quando tinha que acontecer”, relembra, acrescentando que, pagando as mensalidades em dia, acrescentaria mais 10% de desconto nas mensalidades.
O Churrasquinho do Romeu
Inicialmente, o “Churrasquinho do Romeu” funcionava em uma praça, mas o movimento não era muito. Então, tomou-se a decisão de mudar de endereço: passaria a ficar em uma esquina perto da entrada do UNIFAA. O movimento aumentou, e Jorge precisou de ajuda. “Minha mãe também passou a trabalhar lá. Meu pai fazia os churrasquinhos em casa, e muitas vezes eu ajudava, por exemplo, espetando as carnes, porque a correria era grande. Quando a minha mãe tinha algum compromisso à noite, eu que ia para o churrasquinho com meu pai. Sempre ajudamos muito um ao outro”, conta Laísa, relembrando momentos marcantes em família.
“Montamos barraca na tradicional Festa da Glória. A gente trabalhava os dez dias de festa, meus pais virados. Tinha dia que iam dormir 5h da manhã, acordar às 6h, ir para o trabalho, trabalhar o dia inteiro e chegar em casa e ir para a barraca da festa. E eles falavam: “se preocupe em estudar e ser o melhor que você pode que a parte de pagar vai ser com a gente. Pagávamos metade, mas mesmo assim era muito suado. Eu tentava ajudar sempre que podia, inclusive meu namorado, Lucas, também ajudava.” Mas a dedicação dos pais também era motivo de culpa para a filha, que precisou buscar atendimento psicológico: “A psicóloga me ajudou a entender que isso não era meu, era uma coisa deles, que eles faziam tudo aquilo porque me amavam.”
Depois da mudança de endereço, o “Churrasquinho do Romeu” ficava sempre cheio. Entre os clientes, amigos da família e colegas de curso de Laísa. “Estavam sempre consumindo no churrasquinho. Divulgam a barraca, indicavam para outras pessoas. Meus pais têm uma relação muito boa com os estudantes. Eles sempre ganham presentinhos, mimos, são chamados de ‘tios’. Minha mãe é muito cativante, mãezona mesmo. Já vieram diversas meninas aqui na nossa casa no Dia das Mães almoçar conosco para não ficarem sozinhas. São pessoas muito queridas.”
Estudante exemplar
As dificuldades ficaram do lado de fora do centro universitário. Nas salas de aula e nas avaliações, Laísa dava conta do recado, com sobra. “Eu sempre vi o esforço dos meus pais e não queria decepcioná-los. Sempre passei direto nas matérias. Minhas notas sempre foram muito boas, meu CR também era muito bom”. E a cada semestre que terminava, ela mandava uma mensagem aos pais agradecendo e falando que faltava menos um, que a gente estava mais perto de realizar o sonho. E eles sempre respondiam: ‘A gente que agradece a oportunidade que você está nos proporcionando.’
O reconhecimento ao esforço dos pais veio de diversas maneiras. Uma delas foi no momento de fazer as fotografias para o convite de formatura, normalmente cerca de um ano antes da conclusão. Já no final da sessão de fotos, em um ato combinado com o fotógrafo, Laísa tirou o jaleco e colocou o avental do “Churrasquinho do Romeu”, levando o trio ao choro. Após a formatura, os pais seguiram presentes na vida de Laísa. “Conto tudo para eles, que continuam nesta etapa ao meu lado”, conta Laísa, já projetando o novo momento que vai vivenciar: “Vou sair de Valença e morar em Juiz de Fora para fazer residência em Pediatria, que foi a área que escolhi. Agora vai ser outra etapa, novos desafios, mas tenho certeza que minha família vai estar em cada um deles.”
Para quem é fã do “Churrasquinho do Romeu”, uma boa notícia: “Todo mundo me pergunta se, agora que terminei o curso, o churrasquinho vai continuar. Sim, o churrasquinho vai continuar”, afirma, com o sorriso na voz.
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